Maria Cláudia Costa
domingo, 24 de março de 2024
sábado, 6 de janeiro de 2024
sexta-feira, 3 de novembro de 2023
VALENTINA: O ESPÍRITO DA FLORESTA
Escrita por Maria Cláudia Costa
No meio da floresta
havia uma árvore encantada. Reza a lenda que era uma porta para outros mundos,
mas ninguém sabia se era verdade ou não.
Naquelas bandas
existiam muitos animais: patos, leões, elefantes, gatos, bichos de todas as
espécies, selvagens e domésticos, convivendo em plena harmonia. Todos bebiam e comiam livremente sem brigas e
sem ofensas. Quem até lá conseguia chegar, dizia que as matas eram verdinhas e
vistosas, parecia que alguém tomava de conta dia e noite como se fosse um
jardim particular. A água era bem limpinha e saborosa, havia todo tipo de fruta
que você pudesse imaginar, todos os animais se respeitavam e ajudavam a
preservar a natureza. O leão como rei dos animais, ajudava organizando todos em
um grande mutirão de preservação. Às vezes, alguns animais como os macacos que
eram metidos a brincalhões e gostavam de fazer peripécias com os outros animais,
quando passavam dos limites eram advertidos, mas tudo como muita seriedade e
amor.
Como todos tomavam
de conta da floresta, pois todos entendiam que aquele lugar era seu lar, tudo
que acontecia por mais banal que fosse era imediatamente repassado ao espírito
da floresta, que mesmo tendo o dom de tudo ver e saber, tinha consciência que
era necessário dividir com os outros a responsabilidade daquele lugar.
Sempre que aparecia
algum problema, recorriam à Valentina, pois ela era a única capaz de resolver
qualquer coisa, visto que ela tinha a chave para passar pelo portal da
consciência, que transcendia entre o mundo físico e o espiritual. Quando a
árvore se abria, abria-se também dois caminhos o do Paraíso e da Perdição, o
caminho trilhado era escolhido por merecimento daquele que por ele passava, mas
quem ia não voltava, exceto o espírito da floresta. A porta só se abria por
necessidades extremas e quando isso acontecia, algo de sombrio estava pairando
no ar.
Em um vilarejo um pouco
distante dali, conhecido como Arneiroz, afastado daquela redoma verde, tinha um
homem chamado Teodósio que era muito rico e muito ganancioso, quanto mais tinha,
mais queria e não se importava com o que fosse preciso fazer para conseguir.
Contam as más
línguas de Arneiroz, que um dia ele acordou com uma ideia para ganhar muito
dinheiro, resolveu construir uma fábrica que para funcionar seria preciso muita
madeira e para obtê-la, era preciso tirar da Floresta Terena, mas ele como
todos na cidade, conhecia as lendas e mistérios que a envolviam, mas sua
ganância era tanta que ele não deu ouvidos aos avisos dos que lhe rodeavam.
A fábrica foi
construída e com ela pronta, os homens contratados. Agora, era preciso iniciar
os trabalhos. Dessa forma, ele mandou seus empregados com todos os instrumentos
para a floresta e disse que só voltassem com os caminhões cheios de madeira. E
lá se foram eles para o meio da floresta. A floresta era tão fechada, tão
densa, que os caminhões não conseguiram passar de um determinado lugar,
foi preciso que os homens seguissem a pé. Eles tiveram que andar um bocadinho,
todavia, quanto mais andavam, mais diziam aqui ali tinha muita madeira para
vender, só pensavam em ficar muito ricos.
Enquanto isso, os
buchichos ecoavam pela floresta que parecia calma e desabitada. Entretanto, os
bichos escutando aquilo, correram para contar tudo à Valentina, que não perdeu
tempo, foi até a árvore, pronunciou as palavras mágicas. A árvore se abriu e ela
entrou. Os bichos que por ela esperavam no pé da árvore, já estavam
impacientes, e nada do espírito da floresta retornar, o problema é que o tempo era
diferente dentro e fora do portal. No mundo espiritual, o tempo passa bem
devagar, pois era um lugar de organizar os pensamentos e refletir acerca das
decisões a serem tomadas.
Quando Valentina saiu
do portal a confusão estava armada, os bichos achavam que não daria mais tempo
e que o pior já tinha acontecido. Então ela correu e quando chegou, os homens
já estavam ligando a serra elétrica. Ela gritou mandando os homens pararem, ao
mesmo tempo que estranharam uma criança no meio da floresta sozinha, imaginando
ela que eles a obedeceria, também ficaram assustados pela coragem daquela
criança, perguntaram o que ela estava fazendo ali e mandaram-na voltar para sua
casa, alegando que ali não era lugar pirralha.
Nessa hora, a
menina levantou as mãos, balançou-as como se estivesse emanando um poder,
depois esfregou uma na outra, figurando a imagem de um pombo branco que jogou
em cima dos ladrões de madeira, estes começaram a se coçar e rir, não
conseguiriam continuar, então saíram correndo para fazer a coceira parar, jogaram-se
no Rio, mas não adiantou, pois só parou de coçar quando eles saíram das matas
verdes da floresta Tenera.
Um deles ainda
disse: ufa!!! pensei que fosse morrer de tanto me coçar. Depois, ficaram
pensando no que fazer. Só restava contar ao patrão, mas conhecendo o Doutor Teodósio
como eles conheciam, sabiam que ele não acreditaria. Dito e feito, não
acreditou, achava que os empregados estavam inventando tudo aquilo por preguiça.
Foi quando um de seus homens disse: pois se o senhor não acredita em nós, vá
ver de perto se é mentira.
- Uns marmanjos desses correndo com medo de uma
criança, tem muito que ver, pois eu mostro para você como eu trago o caminhão
cheio de madeira.
No outro dia bem
cedinho, Teodósio foi à floresta pegar madeira, andou muito. Os bichinhos
escondidos foram seguindo seus passos. Lá pelas tantas, ele chegou perto da
árvore Encantada, pegou a serra e quando se preparou para cortar, à Valentina
apareceu e segurou a serra com uma força tão grande que ele nem acreditou, no
susto gritou: sai daqui pirralha como ousa me interromper. A menina levantou as
mãos e repetindo o mesmo gesto gritou as palavras mágicas, a porta da árvore se
abriu e engoliu o homem de uma bocada só. Já dentro da árvore, Teodósio teve
que seguir um dos dois caminhos.
Na sua opinião, qual caminho Teodósio seguiu?