quarta-feira, 29 de setembro de 2021

A VELHA DA GRUTA

Era Uma Vez no Alto da Serra,
no município de Curral Velho,
havia uma linda cachoeira,
onde a água que desabava era límpida e bem geladinha.
 
Reza a lenda que ela ficava no meio da mata fechada
e para chegar lá, era preciso muito andar 
e mesmo assim, nem sempre conseguiam encontrar.
 
Por trás da Cachoeira, havia uma entrada para uma gruta,
onde vivia uma velha baixinha,
com um ar arrepilante
de cara enrugada,
cabelos grisalhos,
que andava com um vestido rasgado
e muito sujo de tanto no chão arrastar,
segurando um cajado.
 
Diziam que essa velha levava para lá
as crianças que eram danadas, mentiam,
arengavam e desobedeciam aos pais.
Então sempre que uma criança fazia algo desse tipo,
sua mãe dizia:
continua que a velha da gruta vem te buscar.
 
Num instantin, os meninos se comportavam,
pois morriam de medo.
Entretanto, alguns se achavam mais valentes e diziam:
deixa ela vir, para ver o que que eu faço.
 
As histórias eram conhecidas de todos
que nasceram, cresceram e habitavam por aquelas bandas.
E o medo era tão grande
que ninguém entrava na mata depois do nascer da Lua,
pois corria o risco de se perder
 e não encontrar mais a saída.
 
Muitos iam caçar e pescar,
mas quando o Sol estava se pondo
rapidinho voltavam para casa.
Pois diziam que no meio da noite,
ela perambulava pelo Mato,
pegando os desavisados que por lá andavam.
 
Todo dia no cair da tarde,
no terreiro de casa,
a meninada se reunia para brincar.
E  todos os dias, era uma brincadeira diferente:
soltar raia, brincar de pega-pega, de esconde-esconde,
de bila, cantar cantigas de roda e muitas outras.
 
Até que numa quinta-feira de Lua cheia,
tão cheia que clareou o céu
iluminando toda a mata,
espelhando a própria Lua no chão
as crianças acharam aquela imagem tão bonita
que resolveram sentar-se dentro dela para brincar.  
 
Em dias como esse,
a velha da Gruta secava a cachoeira
e fechava a entrada da gruta,
preparando-a para receber novos prisioneiros.
Por isso, ninguém tomava banho lá,
Pois tinha medo de ser puxado pelo pé
e nunca mais voltar.
 
O medo era tanto
que até os adultos que cresceram naquele lugar
escutando essas histórias
não arriscavam ir até lá.
 
Mas menino,
você sabe que é pior que o cão,
é metido a Valente
e quando desafiado sai de baixo,
ele perde a noção.
 
E nesse dia, a brincadeira não foi pião,
nem macaca, nem carimba,
foi a vez do jogo verdade ou desafio.
E para quem não sabe como é
eu vou contar,
faz-se uma grande roda,
no meio coloca uma garrafa ou uma chinela
gira
e para quem o bico da garrafa ou cabresto da chinela apontar
é aquele que vai responder à pergunta
ou desafio aceitar,
só não valia mentir,
pois se mentisse já sabia o que aconteceria
a velha da gruta vinha buscar.
 
Lá para as bandas da Pedreira,
havia um menino que só sabia mentir
desobedecia a mãe e
vivia desrespeitando os mais velhos.
Um dia, ele saiu para caçar na mata
e dele nunca mais se ouviu falar.
 
Entre uma pergunta e outra
Preferiam revelar a verdade,
em vez de aceitar o combate,
pois escolher o desafio,
poderia se tornar um desastre
pois menino não perdoa
cutuca a ferida do outro
rindo à toa,
 
E mais uma vez a garrafa girou
e de frente ao Zezinho seu gargalo parou
e perguntado a ele: - verdade ou desafio?
verdade ele bradou.
 
Pois bem,
dizem por aí que um dia caçando na mata
você viu a velha da gruta e ficou com tanto medo
que se mijou todinho e saiu correndo.
 
com tanta raiva Zezinho ficou
que de um pulo levantou e gritou
para quem quisesse ouvir: -
Não é de sua conta infeliz da costa oca,
de mim essa resposta nunca terá,
então o desafio vou aceitar
seja ele qual for
porque cabra macho que nem eu,
aprendi com meu pai,
que homem não chora
e que palavra dada jamais atrás é voltada.
 
Então Cicim se levanta e diz: -  
pois agora você vai mostrar
se é macho ou não é,
vai passar atrás da cachoeira
e na gruta adentrar
e pegar qualquer coisa que achar
para provar que do desafio não vai arregar.
 
Nessa hora, começou o buchicho:
se eu fosse tu eu não ia,
enquanto o outro,
vai cara que eu quero ver.
De um pulo só se pôs a correr
para dentro da mata fechada
que só a Lua alumiava.
 
Foram passando as horas
e nada de Zezinho voltar
todos foram para casa
achando que o Zezinho tinha feito eles de besta
que estava em casa a dormir.
 
Pela manhã,
a mãe de Zezinho começou a procurá-lo,
mas ninguém conseguia encontrá-lo
Foi aí que souberam do acontecido
a mãe dele caiu em desespero
e passou a ameaçar todos os meninos.
 
Os homens do Vilarejo se juntaram
e em busca do menino saíram
se embrenharam na mata em direção a cachoeira
da entrada da gruta alguns não conseguiram passar
aqueles que iam avançando
vozes iam escutando
pedido de socorro de meninos e meninas
muito choro de criança,
mas nada encontravam
além de algumas roupas rasgadas.
 
De repente a gruta tremeu,
do céu, raios desceram em plena luz do Sol
no pino do meio-dia
e foi perna pra que te quero.
A água da Cachoeira cessou
e no Lago os homens mergulharam,
quando dele saíram  
uma voz potente
vindo de dentro da Gruta ecoou:
 
- ele agora é meu,
pois mentir é feio,
mas tentar tornar a mentira uma verdade
é pior ainda.
Vão e avisem que eu estou de prontidão
no alto das árvores, atrás das pedras
escutando toda a sorte de peripécias
e aquela que me alimentar
eu vou buscar.
 
Os homens assustados correram para casa
e a notícia foi espalhada.
 
Depois disso,
a mãe de Zezinho enlouqueceu
perdeu a Esperança
e de tanta dor pereceu
e todos que o conheceram
nunca o esqueceram
e os que fizeram o desafio
se arrependeram
e a partir daquele dia
cheio de magoas viveram.


Escrita por Maria Cláudia Costa