domingo, 1 de setembro de 2019

Esquetes Leão D’água e Beijo no Asfalto

INSTITUTO FEDERAL DO CEARÁ
DEPARTAMENTO DE ARTES
LICENCIATURA EM TEATRO
DISCIPLINA: ATOR INTÉRPRETE
PROFESSOR: Paulo Ess
ALUNA: Maria Cláudia Costa
DATA: 19/06/2019



         Os esquetes mencionados foram produzidos dentro de um contexto naturalista bem como das concepções trabalhadas em sala através dos livros de Stanislavski. Para tanto, foram feitas observações que mostraram o alcance geral desses pressupostos.
         Para melhor entendermos os passos dados pelos grupos, é preciso antes definir as concepções que nortearam a feitura desse trabalho.
         O Naturalismo foi um movimento cultural relacionado às artes plásticas, literatura e teatro que surgiu na França, na segunda metade do século XIX, principalmente entre 1880 e 1900. Este movimento foi uma radicalização e extensão do Realismo. Temos como características principais do Naturalismo:
- O mundo podia ser explicado através das forças da natureza.
- Valorização do conhecimento científico.
- O ser humano era condicionado às suas características biológicas (hereditariedade) e ao meio social em que vive.
- Forte influência do evolucionismo do naturalista britânico Charles Darwin.
- A realidade era mostrada através de uma forma científica (influência do Positivismo).
- Nas artes plásticas, por exemplo, os pintores enfatizavam cenas do mundo real em suas obras. Pintavam aquilo que observavam. A representação artística deveria ser a mais fiel possível das aparências da natureza.
- Na Literatura, ocorreu, com frequência, o uso de descrições de ambientes e de pessoas.
- Ainda na Literatura, a linguagem era tratada de forma coloquial.
- Os principais temas abordados nas obras literárias naturalistas foram: desejos humanos, instintos, loucura, violência, traição, miséria, exploração social, etc.
         O teatro do naturalismo surge paralelamente ao movimento literário do naturalismo. Seu precursor foi o escritor e dramaturgo Émile Zola.

É uma vertente teatral surgida na França no fim do século XIX e início do século XX que buscava criar uma ilusão da realidade no palco através de uma série de técnicas e estratégias de atuação. Originário de uma radicalização do realismo, o naturalismo corresponde a um tipo de interpretação teatral que busca reproduzir a o comportamento natural humano com a mais absoluta fidelidade, tentando produzir a realidade de forma mimética. A centralidade da atuação concentra-se na pessoa do ator, que busca atuar através do estudo minucioso da psicologia, comportamento e gestual humano. O uso de cenários incrementados é dispensado, mantendo-se apenas o minimamente essencial no palco. Para Zola, os princípios básicos de uma peça era "tornar grande, tornar verdadeiro, tornar simples", as ações das personagens deveriam ser explicadas pelo ambiente ao redor e pela hereditariedade.

         O naturalismo foi bastante influenciado por uma compreensão darwiniana, sobretudo ao determinar o papel do meio na personagem, e a motivação para o seu comportamento.

Segundo o Naturalismo, o homem é desprovido do livre-arbítrio, ou seja, o homem é uma 'máquina' guiada por vários fatores: leis físicas e químicas, hereditariedade e meio social, estando sempre à mercê de forças que nem sempre consegue controlar. Para os naturalistas o homem é um brinquedo nas mãos do destino e deve ser estudado cientificamente.

         Nesse contexto, Constantin Stanislavski sistematizou um método de atuação, não excluiu de suas reflexões a relação ator-texto. Para ele, a voz no trabalho do ator ganha uma importância que ultrapassa aspectos da boa dicção e capacidade declamatória. A ideia de dar vida às palavras do texto tomou força, o que fez com que a atuação abandonasse o verossímil. Desse modo, uma encenação podia se distanciar, em termos de sentido, das ideias pensadas pelo autor no momento de concepção da peça. Como representante do naturalismo nos palcos, Stanislavski julgava que o público precisava acreditar no que estava vendo de tal forma que o que estava sendo encenado devia assemelhar-se a um acontecimento cotidiano, o que diferia da falsa ilusão de realidade que era gerada antes com o drama romântico.

Em busca dessa interpretação naturalista, Stanislavski propôs uma metodologia para que a atuação fosse mais orgânica, organizando-a em dois enfoques que corresponderam a dois momentos de sua trajetória no teatro: o das Linhas das Forças Motivas e o do Método de Ações Físicas. Em um primeiro momento Stanislavski sugeriu um trabalho com base na vida interior dos atores, o que se constituiu no enfoque das Linhas das Forças Motivas. No decorrer de seu trabalho Stanislavski percebeu que a atuação não deveria depender apenas da vida interior do ator, mas também do corpo físico.

Por conseguinte, foi dentro desse contexto que se desenvolveram os experimentos descritos a seguir.
         O beijo no asfalto foi escrito em apenas 21 dias, inspirado na história de um repórter do jornal "O Globo", Pereira Rego. De Nelson Rodrigues, publicado em 1960. A adaptação feita narra à história de um homem que está sendo acusado falsamente por um delegado corrupto e um jornalista sensacionalista que querem a todo custo ganhar fama e dinheiro. Um homem casado é visto dando um beijo em outro homem no meio da rua. Palco para o sensacionalismo gratuito. E se não bastasse ainda há uma trama passional se formando dentro da casa do acusado. É um triângulo amoroso colocando no centro de tudo Arandir, que ver sua vida de uma hora pra outra virar de cabeça para baixo.
         Partindo dessa sinopse, podemos dizer que o contexto não poderia ter outra classificação que o naturalismo, pois narra fatos do cotidiano, tais como: a morte, o assassinato, a corrupção, traição, a inveja, o ambiente onde se passa os fatos, a rua, a casa e o quarto de hotel. Enquanto que para Stanislavski o ator deve mostrar suas emoções, algo que vemos todo tempo em cena, através do delegado e do jornalista que desejam se dá bem; da filha mais nova que se revela apaixonada pelo cunhado e do sogro que diz o nome do genro na hora do assassinado. Ideias foram construídas e trabalhadas de maneira a passar ao público impressões verossímeis.
         O estranhamento deu-se no posicionamento do público em relação ao passar das cenas. Enquanto a plateia fica em corredor no centro do palco a cena passa-se nas costas dos espectadores. Contudo, segundo o professor é uma característica naturalista.
         Leão D’água é uma peça de Fernando Ferreira escrita para um concurso do Sesc (Serviço Social do Comércio). O público inicia do lado e fora do palco, recebendo um convite para entrar e sentar. Palco arena mais estilo quadrado.
         A história narra a história de três personagens: a delegada, seu assistente e o acusado. Este foi representado por quatro atores. Com narrativas introspectivas como se fosse um enorme despropósito, entendimento a partir da frase “acordou, lanchou, morreu”.
         Não me pareceu uma peça naturalista, mas épico, por conta dos relatos do acusado. E por um momento, pareceu-me que ele estava numa psicóloga e não numa delegacia. Entretanto, os tapas dados pela delegada foram bem naturalistas.
De acordo com o professor, eles utilizaram a linguagem do cinema, isto é, bem minimalista e de gestos pequenos.
         Os dois grupos souberam utilizar-se muito bem das leituras e aprendizados no decorrer da disciplina e foram bem além, mostraram ao público que sempre podemos inovar e reinventar.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Stanislavski, Constantin. A construção da personagem; tradução Pontes de Paula Lima. - 10' ed. - Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
Disponível em <https://www.suapesquisa.com/artesliteratura/naturalismo.htm>acesso em 09/06/2019.
Disponível em <http://andreteatro.blogspot.com/2011/11/stanislavski.html>acesso em 09/06/2019.
Disponível em <https://escolarecriarte.com.br/3-metodos-de-interpretacao-do-ator/>acesso em 09/06/2019.

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