domingo, 23 de janeiro de 2022

EDUCAÇÃO NA ERA VARGAS: 1930-1945

GOVERNO VARGAS: TRÊS FASES

-Governo Provisório (1930 – 1934)
-Presidente eleito pelo Congresso Nacional (1934 - 1937)
-Estado Novo (1937 a 1945)
 
DUAS CONSTITUIÇÕES BEM DIFERENTES:
 Constituição de 1934 mais democrática;
Constituição de 1937 de cunho autoritário
 
CONTEXTO ANTERIOR: CONFLITOS DE INTERESSES
 A década de 1920 foi marcada pelo confronto de ideias influenciadas pelos movimentos europeus.
Disputa econômica e política.
Movimentos que buscavam romper a ordem oligárquica.
Reajustamento dos setores emergentes na sociedade com os setores tradicionais.
 
QUEBRA DA BOLSA DE NOVA YORK
Crise econômica agravada pela Quebra da Bolsa de Nova York em 1929.
Repercussão direta sobre as forças produtoras rurais que perderam do governo, os subsídios que garantiam a produção.
 
REVOLUÇÃO DE 1930
Forças oposicionistas - Aliança Liberal.
Marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de capital, do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produção industrial.
A nova realidade passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal, era preciso investir na Educação.
 
GOVERNO PROVISÓRIO: INSTABILIDADES (1930-1934)
Em 1931 algumas oligarquias perdem poder e com a classe média paulista, arquitetam uma revolta buscando uma nova Constituição.
 
EDUCAÇÃO NOS ANOS 1930
Entre 1930 e 1937 o Brasil viveu um dos períodos de grande radicalização política.
Diferentes pensamentos sobre a política educacional brasileira.
Liberais 
Católicos 
Governistas 
Aliancistas
 
EDUCAÇÃO NO GOVERNO PROVISÓRIO
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública tendo Francisco Campos como ministro;
Reforma do Ensino Secundário e do Ensino Superior (1931);
Manifesto dos Pioneiros pela Educação Nova (1932);
Constituição Federal de 1934;
Projetos de reforma educacional oriundos da sociedade civil.
 
1931 – IV Conferência Nacional da Educação com o tema:
“As grandes diretrizes da Educação Popular” e contou com a presença do Ministro Francisco Campos e do próprio Presidente Vargas.
 
Criação da Universidade de São Paulo em 1934. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.
 
FRANCISCO CAMPOS (1891-1968)
Francisco Luís da Silva Campos, mineiro, estudou na Faculdade Livre de Direito de Belo Horizonte. Foi deputado Federal pelo PRM. Em 1926 foi nomeado Secretário do Interior. No cargo, promoveu uma Reforma Educacional.
 
Assumiu a direção do recém-criado Ministério da Educação e Saúde (1930-1932 e deixou o Ministério da Educação em setembro de 1932.
 
Em dezembro de 1935 foi nomeado Secretário de Educação no Rio, em substituição a Anísio Teixeira, acusado de envolvimento com a Intentona Comunista.
Consolidou-se como um dos mais importantes ideólogos conservadores no Brasil.
Tornou-se um dos elementos centrais da do Estado Novo.
Foi o responsável pela redação da Constituição brasileira de 1937.
 
REFORMA FRANCISCO CAMPOS
Em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes.
 
O Decreto 19.850, de 11 de abril de 1931, cria o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação (que só vão começar a funcionar em 1934).
O Decreto 19.851, de 11 de abril de 1931, institui o Estatuto das Universidades Brasileiras que dispõe sobre a organização do ensino superior no Brasil e adota o regime universitário.
 
O Decreto 19.852, de 11 de abril de 1931, dispõe sobre a organização da Universidade do Rio de Janeiro.
O Decreto 19.890, de 18 de abril de 1931, dispõe sobre a organização do ensino secundário.
O Decreto 20.158, de 30 de julho de 1931, organiza o ensino comercial, regulamenta a profissão de contador e dá outras providências.
O Decreto 21.241, de 14 de abril de 1931, consolida as disposições sobre o ensino secundário.
 
MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO – 1932
Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o documento, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época, postulando a necessidade do Estado organizar um sistema educacional com ênfase no método de ensino, e não mais ao conteúdo enciclopédico.
 
Princípios gerais: educação como serviço público, escola laica e comum para ambos os sexos.
 
NOVA ESCOLA
O escolanovismo brasileiro está ligado a certas concepções de John Dewey, que acreditava ser a Educação, o único meio efetivo para a construção de uma sociedade democrática, que respeite as características individuais e insira o indivíduo em seu grupo social.
Respeito à sua unicidade, mas como parte integrante e participativa.
Dessa concepção derivava a centralidade da criança e da infância no período da Modernidade. Disseminação da escola primária e dos Jardins de Infância.
 
ATUAÇÃO E PROPOSTAS DA ESCOLA NOVA
Escola primária (sete a doze anos) gratuita e obrigatória
Expansão progressiva da obrigatoriedade até os dezoito anos e a gratuidade a todos os graus.
Financiamento com fundos próprios para a Educação
Intenso debate educacional no plano político e pedagógico.
Influência na Constituição de 1934
 
CONSTITUIÇÃO DE 1934: ESPERANÇA DE MUDANÇAS
Inspiração liberal
Inovações importantes
Dispositivos econômicos: intenções nacionalistas
Dispositivos de caráter social: pluralidade e autonomia dos sindicatos, legislação trabalhista
Segurança Nacional: a cargo do Conselho Superior de Segurança
Nacional, com a chefia do Presidente da República Possibilidade do voto feminino
 
CONSTITUIÇÃO DE 1934 E EDUCAÇÃO
 
Primeira Carta Magna, que vincula como competência da União, a elaboração das Diretrizes da Educação Nacional.
A Constituição dedicou capítulos à ordem econômica, à legislação trabalhista e à Educação e à Cultura.
As Constituições anteriores foram omissas e superficiais quanto à Educação. Essa incumbia a União de fixar um Plano Nacional de Educação.

CONSTITUIÇÃO DE 1934 E EDUCAÇÃO: RUPTURAS E CONTINUIDADES
Conserva a estrutura anterior do Sistema Educacional: União responsável pela manutenção do ensino secundário e superior no DF e ação “supletiva” na obra educativa em todo país.
 
Responsabilidade da União: estabelecer as diretrizes da educação nacional, promovendo a articulação entre os diferentes sistemas.
 
Competência da União: fixar o Plano Nacional da Educação, que estabeleceu como meta o ensino primário integral e gratuito e de frequência obrigatória, extensivo aos adultos e a tendência a gratuidade do ensino posterior ao primário.
 
Ensino religioso com frequência facultativa. Isenção tributária aos estabelecimentos de ensino particulares considerados idôneos.
 
GOVERNO CONSTITUCIONAL – 1934/1937
Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação.
 
Em 1937 Getúlio Vargas, num golpe de Estado, instala o Estado Novo e proclama uma nova Constituição, também conhecida como "Polaca".
 
CONSTITUIÇÃO DE 1937: A CARTA DO ESTADO NOVO
Outorgava poderes irrestritos ao presidente da República:
- confirmar ou não os governadores eleitos, nomear interventores;
- dissolver o Parlamento, assembleias estaduais e Câmaras municipais;
 
- aposentar ou demitir funcionários civis ou militares, “no interesse do - serviço público ou por conveniência do regime”;
- cassar os direitos civis garantidos pela Constituição;
- governar mediante Decretos-Lei.
 
Criou o Departamento de Imprensa - DIP ;
Inverteu as tendências democratizantes da Constituição de 1934;
Prorrogou o mandato presidencial para 6 anos;
Nomeou interventores para a chefia dos governos estaduais;
Proibiu as greves, consideradas recursos “anti-sociais”;
Introduziu a censura prévia dos meios de comunicação, exercida pelo DIP.
 
A CONSTITUIÇÃO DE 1937 E A CENTRALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO
-Retrocessos na Educação: reforçou a dualidade entre a escola de ricos e pobres;
-Competência da União não apenas traçar diretrizes para a educação, mas “fixar as bases e determinar os quadros da educação”;
-Mantém a liberdade de ensino;
-Dever do Estado em segundo plano: para aqueles a quem “faltarem recursos necessários”;
-Não se refere a gratuidade do ensino posterior ao primário;
-Ensino religioso ganha maior espaço.
 
GUSTAVO CAPANEMA (1900-1985)
Mineiro de Pitangui, pertencente a tradicional família de intelectuais e políticos do Estado.
 
•Bacharelou-se na Faculdade de Direito de Minas Gerais nos anos 1920 e lá, vinculou-se aos grupos de intelectuais. Em 1927 elege-se vereador na Câmara Municipal de Pitangui.
 
A PARTICIPAÇÃO DE GUSTAVO CAPANEMA
É nomeado Secretário do Interior em Minas, substituindo Francisco Campos.
 
Viveu intensamente o período de 1930, apoiando o movimento que depôs o presidente Washington Luís e levou Vargas ao poder. Foi um período marcado por mudanças tanto em nível nacional, como internacional.
 
Tais mudanças deixaram importantes marcas na obra política e administrativa de Capanema.
 
Em 26 de julho de 1934 foi nomeado para a pasta da Educação e Saúde Pública.
 
Na área de saúde, instituiu serviços de profilaxia de diversas doenças.
 
Capanema não permaneceu alheio ao grande debate travado em 1935, nos meios culturais e políticos do país, sobre o sentido e a orientação do sistema educacional brasileiro.
 
De um lado, os educadores do chamado movimento escolanovista, como Anísio Teixeira, Manuel Bergström, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, defendiam uma educação igualitária sob a responsabilidade do Estado.
 
Do outro, situava-se o movimento católico, liderado por Alceu Amoroso Lima, propugnando o ensino religioso e livre da tutela do Estado. "Entre os extremos", diz Simon Schwartzman, "Capanema jamais se decide de maneira totalmente explícita, mas o peso da influência de Alceu é, sem dúvida, o predominante". Defendia que o ensino secundário destinava-se à “preparação das individualidades condutoras, isto é, dos homens que deverão assumir as
responsabilidades maiores dentro da sociedade e da nação, dos homens portadores das concepções e atitudes espirituais que é preciso infundir nas massas, que é preciso tornar habituais entre o povo.”
 
Na sua gestão, foram criados o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a Universidade do Brasil, o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), o Instituto Nacional do Livro, o INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), o SENAC.
 
Apesar de elitista e conservadora, a Reforma Capanema marca sua importância pelo caráter pioneiramente sistematizador do ensino nacional.
 
REFORMA GUSTAVO CAPANEMA – LEIS ORGÂNICAS DO ENSINO
Lei Orgânica do Ensino Industrial – Decreto-Lei n. 4.073 de janeiro de 1942
Lei Orgânica do Ensino Secundário – Decreto-Lei n. 4.244 de abril de 1942
Lei Orgânica do Ensino Comercial – Decreto-Lei n. 46.141 de dezembro de 1943
Criação do SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial por meio do Decreto-lei 4.048, de janeiro de 1942
 
APÓS A QUEDA DE VARGAS
Lei Orgânica do Ensino Primário – Decreto-Lei n. 8.529 de janeiro de 1946
Lei Orgânica do Ensino Normal – Decreto-Lei n. 8.529 de janeiro de 1946
Lei Orgânica do Ensino Agrícola – Decreto-Lei n. 9.623 de agosto de 1946
Instituído o SENAC –Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, pelos Decretos-leis 8.621 e 8.622 de janeiro de 1946
 
LEIS ORGÂNICAS DO ENSINO INDUSTRIAL
 
Ensino técnico profissional – dois ciclos (média entre sete a oito anos de duração):
Ciclo 1 - Industrial básico com 4 anos mais Mestria com 2 anos
Ciclo 2- Técnico - de 3 a 4 anos
Curso de formação de professores – 1 ano
Cursos de curta duração: treinamentos rápidos
Curso de aprendizagem: no ambiente de trabalho
 
LEIS ORGÂNICAS DO ENSINO COMERCIAL
 
Ensino técnico profissional – dois ciclos (média entre sete a oito anos de duração):
Ciclo 1 – Comercial básico com 4 anos
Ciclo 2- Técnicos - de 3 anos (Contabilidade, comércio, estatística, propaganda e secretariado)
 
SIGNIFICADO IDEOLÓGICO E SOCIAL DA REFORMA CAPANEMA
 
Falta de articulação entre os níveis e ramos do ensino profissional, inviabilizando a mudança de curso por parte do aluno.
Dificultava o ingresso no ensino superior.
Naturalizava as diferenças sociais: ensino secundário para as elites e ensino profissional para as massas.
Acentuava o dualismo na Educação brasileira.
 
SALDOS NUMÉRICOS DA ERA VARGAS
 
No início do Governo Vargas, 2/3 da população em idade escolar estava excluída da escola e o analfabetismo atingia 65% da população maior de 15 anos.
 
Educação passou a ocupar o sexto lugar das despesas no âmbito da União e o segundo, dos Estados.
 
Ampliação do número de escolas e de matrículas. Aperfeiçoamento no âmbito administrativo.
No período de 1935-1946, as matrículas no ensino primário passam de 2.413.594 para 3.238.940
 
No Ensino Secundário, passam de 202.886 para 465.612.
 
Em 1940, o analfabetismo caiu para 56%.
 
Foi incapaz de eliminar a seletividade da educação brasileira e romper com a contradição entre trabalho manual e intelectual.
 
BIBLIOGRAFIA
VIEIRA, S. L. e FREITAS, I. M. S. de. Política Educacional no Brasil. Brasília: Plano Editora, 2003. p. 85-102
 
SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia M. de & EVANGELISTA, Olinda. Política educacional. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário